George VI (Colin Firth) |
O DISCURSO DO REI
Acabo de assistir "O Discurso do Rei", filme indicado a doze Oscars e ganhador de quatro, inclusive de melhor filme. Mas as premiações, apesar de merecidas, não são tão importantes como a história retratada:
Após a morte de seu pai e a renúncia do seu irmão mais velho ao trono, é a vez de George assumir a coroa e com ela todas as suas responsabilidades. No entanto, um detalhe crucial abala sua auto-estima e o faz questionar sobre sua capacidade de conduzir o reino: uma indesejável e inoportuna gagueira. Como pode um rei, cujo discurso pode inflamar paixões ou apaziguar os ânimos dos súditos descontentes, não conseguir passar a força e a confiança que esperam de um soberano? É esse desafio que o agora Rei George VI e seu fonoaudiológo Lionel Logue terão que enfrentar.
Após muito tratamento e persistência e em meio ao começo da Segunda Guerra Mundial, os súditos apreensivos diante daquele cenário internacional de violência esperam notícias sobre o destino do país. Através da emissora real de radiodifusão, todos prestam atenção ao aguardado discurso do Rei. O filme encerra de maneira triunfal e mostra a importância da fala, do discurso, enfim, da palavra enunciada com força, altivez e emoção.
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A VERDADE RETÓRICA
Os sofistas, por exemplo, acreditavam que era possível convencer alguém que o preto era branco apenas através de um argumento astuto e (aparentemente) certeiro. Pode ser que haja um certo exagero nesse pensamento, mas uma coisa é verdade: em meio a tantas incertezas, muitas vezes o que temos de mais concreto é o discurso. Muita coisa das quais acreditamos hoje nos foi colocada não através dos fatos, mas do discurso, do discurso ideológico, político, religioso, filósofico e até científico.
No curso de Direito, e até nos tribunais, muitas vezes o que impera não é a Verdade, mas o que predomina é a verdade retórica, ou seja, aquele argumento intelectualmente irresistível. É assim que acontece na maioria dos fóruns e nos cursos das ditas Ciências Humanas. Pra quem é da área jurídica termos como "Direito Natural", "Justiça", "Democracia", "Dignidade Humana", "Mínimo ético", por exemplo, são conceitos bem difundidos. E o que são conceitos? Representações gerais e abstratas de uma realidade ou até mesmo de uma não-realidade. Quer dizer, uma coisa não existe só porque damos nome a ela.
Não quero dizer que estas que citei não existem, pelo contrário, são ideais como esses que me fazem ver que certos estudos e pesquisas (apesar de às vezes um pouco cansativos) são úteis e necessários para alcançar objetivos maiores. No entanto, o mais fascinante e espetacular é perceber que através das palavras, das ideias e dos argumentos vencemos e convencemos.
Resta ter cuidado e usar tais habilidades para um bem maior.