9 de outubro de 2010

Cidadezinha qualquer

   Lendo o blog "Alteridade e Coisas do Cotidiano" comecei a pensar sobre o que faz a vida no interior, apesar de algumas vezes ser enfadonha, tão fascinante. 
  Quando era criança e morava em Alagoinha, pequena município de pouco menos de 15.000 mil habitantes, sempre sonhava com as grandes cidades. São Paulo com seus prédios e sua efervescência cultural era a minha favorita. Lugares gelados e cobertos por neve também me encantavam. Era doido pra passar o natal  esquiando num lago congelado e cantando "Jingle Bell" em frente a uma imponente árvore natalina. Talvez fosse influência dos inúmeros filmes que assistia, mas era esse ideal de felicidade que perpassava pela minha mente de criança.
   Ao morar numa cidade relativamente grande, descobri que detesto trânsito intenso, barulho,  pressa e poluição visual. Me sinto sufocado com tantos anúncios publicitários e carros businando loucamente. Não suporto o ritmo de uma cidade que acorda com o pulsar frenético das conduções que levam as pessoas ao trabalho e que termina a noite trazendo de volta esses mesmos trabalhadores e estudantes às suas casas para que no dia seguinte tudo se repita. Tenho a impressão que nesses lugares a vida se torna mecanizada e solitária, apesar da aglomeração de pessoas.
  Prefiro a calma do interior, conhecer todo mundo, falar com 20 pessoas até chegar a padaria. Poder comprar fiado (não gosto, mas é bom saber que posso).Também acho interessante como as pessoas se interessam tanto pela vida alheia. Aliás, as da capital também se interessam, mas as daqui não precisam comprar "Caras". A badalação se desenrola dentro da própria cidade. Pois quem lê Caras, não vê coração.
   Também há aquelas coisas que só se vê no interior como anúncio de falecimento em carro de som, pessoas conversando despreocupadas em frente às suas casas, festas de rua e personagens folcróricos que se tornam verdadeiros ícones na cidade. Também há a proximidade da natureza, das fazendas, dos açudes, dos rios... O poeminha de Drummond retrata isso muito bem:
  

CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras

Mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Êta vida besta, meu Deus.



   São essas peculiaridades que fazem com que muitos sintam uma saudade secreta quando pensam na vida no interior. Até mesmo aqueles que nunca viveram lá.

2 comentários:

Antônio Cavalcante disse...

Também sou daqueles que preferem a "vida besta" da cidadezinha. Parabéns pelo blog.

Joel Martins Cavalcante disse...

Eu adoro Alagoinha!!!
Adoro fazer muitas das coisas que você relatou aí.
Às vezes, como acontece com muitas moradores dessas cidades, bate em mim uma vontade imensa de ir embora, de ir em busca de mais agitação, de mais liberdade, de mais aventura.
Mas, vejo que a paz desfrutada aqui é cara em cidades maiores. A honestidade nos relacionamentos com a vizinhança, com os colegas de escola ou de trabalho, com as pessoas que vão à missa de domingo é rara em grandes centros.
Não sei se vou ficar aqui por muito tempo. Talvez não. Pretendo ir pra outros lugares. Contudo, minha natureza ambivalente, me faz recuar, em alguns instantes, desse projeto pessoal.
Sou como um pássaro. Quero voar bem alto. Ver outras terras. Mas sempre voltar para o meu ninho!

Parabéns pelo blog companheiro!